quinta-feira, 25 de julho de 2019

Palavras para "Casa"


" O tempo presente. Os homens presentes. A vida presente"

    Casa – substantivo feminino, moradia, construção com distintos formatos destinada a habitação, lar.
    Paulo Marques – substância adjetivada pelo afeto, corpo habitado por conhecimento, muitas horas de aula de dança, diálogos, escritos e gestos.
Entrei no teatro, pensando em uma casa, casa que tinha algumas referências e muito afeto. Lembrei da definição do dicionário e ao percorrer com os olhos o espaço do palco, senti um espaço cheio, habitado por muitos gestos que se mantinham presentes.
O palco, sem cenário, remeteu a interioridade do ser e do espaço vazio proposto por Santiago Barbuy no texto “O espaço do encontro Humano”, espaço de possibilidades , de existência, de criação, de riscos verdadeiros e descobertas. Pressentia que ali, naquele espaço vivenciaria experiências e dançaria espaços de outra vida.
O espaço vazio é o espaço verdadeiro de ser humano, de questionamentos, dúvidas, sofrimentos e consciência. O artista enfrenta o espaço vazio como espaço de possibilidades e cria a partir do vazio, uma nova concepção de realidade. Cria um entendimento de mundo e uma forma de comunicar relacionada com a consciência de si e da própria vida. O espaço vazio é repleto de espacialidade, que é a possibilidade de concretizar os valores anímicos, subjetivos e criativos.
Paulo entrou, alterou a luz, olhou o público sem pressa. A partir daí uma sucessão de narrativas e movimentos, foram descrevendo cenários e imagens, que ora construíam-se no silêncio, ora em melodias que somavam sentidos a cena que se desvelava.
Vi e vivi momentos intensos, chorei e lembrei. Nos movimentos de Paulo, descobria histórias, lembrava momentos e com a abertura de alguns portais, presentificaram-se vidas, infâncias, dúvidas, buscas, frustrações ….. Narrativas foram se desdobrando, elaborando novos caminhos e significações.
Nas sombras que o corpo de Paulo produzia no espaço, via muitos Paulos, de muitas fases e realidades. Como o arquétipo da sombra descrito por Jung, vi o que não reconheço em mim, mas que faz parte de mim. Vi partes de Paulo, que também eram Paulo.



Como uma flor, Paulo foi despetalando movimentos, frases, memórias e presenças. Com o público, experimentava a verdade de uma vida, a honestidade do corpo em movimento que tornava a cena mais generosa e mais emocionante.
A casa – Paulo – potente, mobilizou a casa – plateia, sedenta de origens, processos e habitações. A casa – Paulo – corpo mostrou-se forte e fantasiosa, fonte de espaços habitados, construídos e lembrados; de espaços desabitados, desconstruídos e deslembrados.
Uma casa – Paulo – portal abriu inúmeras possibilidades de reflexão e apropriação de espaços desocupados em todos os que compartilharam Casa com ele.
Gratidão!!!!!!
Fotografia: Maurício Maia

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