Sonho é Criação


Desenho de Jung pertencente ao Livro Vermelho

Dia 14 de Março

Sonho é Criação, é o nome da disciplina que começo este semestre e que na primeira aula já me envolveu e revolveu tanto, que gerou texto, imagens, desejos e ações. Também uma nova página!
Adilson Nascimento de Jesus, é o responsável pela disciplina, pela felicidade em que estou, pela reaproximação com o inconsciente, reaproximação com minha Dança e por uma comunhão de pensamentos e intuições.
Professor Pós-Doutor e Pesquisador da Faculdade de Educação da UNICAMP, "Dança, estuda e pesquisa a Imagem, a Imaginação, a Fantasia e o Sonho como formas de Educação e Autoconhecimento. Atualmente pesquisa o Sonho como processo original de criação em dança. Desenvolve o trabalho de Vivências Corporais como base de sua criação. Dança e pesquisa o Butoh. Realiza criações em videodança. Integrante do Grupo Estudos Audiovisuais - OLHO, e coordenador do Grupo de Estudos em Dança - GEDAN."(Fonte: http://www.fae.unicamp.br/olho/adilson.html)
Sua aula, foi uma aula-espetáculo, onde sai como se sai de um ritual espetacular. Durante três horas, Adilson falou, lembrou, moveu, dançou, emocionou. Foi emocionante ver o artista se desnudar, expor seus caminhos, histórias, dúvidas, sensações e emoções.
O artista é movido pelo turbilhão do inconsciente. Aceitou o chamado (ou a cutucada) e ao longo de sua experiência, vai percebendo situações, ocorrências e sincronicidades. Nada é por acaso, nem os sonhos mais terríveis. Tudo é parte do que é necessário viver, e sofrer .........se preciso for.
Encontrei em suas palavras, meus relatos e experiências proximais. Dividimos muito, dividimos um universo místico, religioso, sublime, misterioso, sagrado, perturbador, envolvente e simbólico
Foi muito curioso que enquanto Adilson falava e movimentava-se, um gesto seu deflagrou a imagem do sonho da noite passada. Ele mexeu os dedos, esfregando o polegar nos outros dedos, e foi como se tivesse dado um toque na corda de um instrumento, e esse toque tivesse a capacidade de desnudar a música que se iniciaria. Pude vislumbrar o sonho que tinha perdido com esse seu pequeno gesto.
Mágico!  

Fonte da Imagem: http://beautiful-grotesque.posterous.com/liber-novus-the-red-book-of-carl-jung

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Dia 18 de Março

Sonhos em Pensamento

 

Depois da euforia inicial da primeira aula, algumas palavras escritas e ouvidas (que se desdobraram em idéias) ficaram soando e reverberando; fazendo ecos em meus dias. Acho que encontraram respostas em algo que eu não reconheço em mim, ou pior (melhor?) reconheço, mas não admito.
O sonho ficou revirando na minha consciência desperta e fiquei divagando sobre essa aventura que se constrói com tantos mitos, heróis, cores, sombras e medos, além de algumas paragens e personagens que insistem em se manter no desenrolar dos dias e das noites.
O sonho poderia ser comparado a um portal que se abre e é possível ver um universo que existe em outra dimensão. Esta brecha parece ter um tempo de existência, e uma vez fechada a porta, o acesso é limitado.
Este universo carrega as vezes sentimentos de estranheza, por pertencerem ao mundo dos símbolos, e não seguirem as lógicas estabelecidas pelo universo material. O encontro com essas camadas profundas da alma, pode ser mágico, envolvente, revelador,  assustador, pessoal, sagrado e criador.
Criador de movimentos, de conhecimentos, de atitudes e ações.


Thomas Barbley
Fonte da Imagem: http://highlike.org
Data de Acesso: 18 de Março de 2013


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Dia 19 de Março

A Mitologia pessoal......


Biurá - contas de sonhos filmagem realizada no jardim Botânico do Rio de Janeiro

 Pensar que um mito rege meu caminho, me levou a pensar sobre o rumo que sigo, o que me atrai, me emociona e me afeta. Ainda não reconheço esse mito em uma imagem, símbolo ou história. Acredito que o mito tem o arquétipo como centro. Com esse viés identifico a Anima, a morte e a minha sombra (o homem de preto) como elementos que parecem viver com grande profusão dentro de mim, me desordenando e baguçando o que tento manter arrumado.

"Ele (Jung) mostrou que a vida está vinculada ao mito de modo a podermos avançar por um caminho evolutivo que nos leve a fonte espiritual. É por isso que o mito permanece mais próximo de nós que a respiração, mais próximo que nossas mãos e pés. Acredito que ele está embutido em nosso ser. O mito não é uma quimera conceitual imaterial. Ele está codificado nas células e fluidos, nos mares do inconsciente. O mito reside em nosso dedinho e em nossa coluna tanto quanto o espírito. garante-nos acesso ao DNA da psique humana, aos padrões originais do nosso ser. Ele nos dá a chave de nossa existência pessoal e histórica. Sem chaves míticas, como Jung continuamente nos mostrou, não teríamos cultura ou religião, nem arte, arquitetura, teatro, ritual, epopéias, costumes sociais ou desordens mentais." (Dunne, 2012, p.18) 

É interessante pensar nas vidas que se desdobram pelas proximidades da minha vivência como mitologias ligadas aos arquétipos, que podem ou não me alterar.


Imagem feita por Jung para o Livro Vermelho
Fontes: DUNNE, C. Carl Jung: curador ferido de almas. São Paulo: Editora Alaúde, 2012. 
Imagem: http://beautiful-grotesque.posterous.com/liber-novus-the-red-book-of-carl-jung

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Dia 20 de Março 

 Ainda pensando sobre o Mito encontrei essa citação ....... ou ela me encontrou.........

“Conhecer os mitos é aprender o segredo da origem das coisas. Por outras palavras, aprende-se não só como as coisas passaram a existir, mas também onde as encontrar e como fazê-las ressurgir quando elas desaparecem.” (M. Eliade)
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Dia 28 de Março

As imagens são poderosas formas de construção e de conexão. Vindas de muitos lugares, entram em sintonia com o nosso universo sensível, quando permitidas, desdobrando-se em poderosos universos simbólicos. 
Assistir ao filme Excalibur de John Boorman para mim, teve esse efeito. O filme rico em imagens e símbolos desdobrou-se em rascunhos de desenhos e palavras. Em uma atitude contemplativa e participativa, permiti que as imagens me invadissem, e que alguns símbolos sobresaíssem em minha percepção, talvez relacionados a minha vivência e ao meu inconsciente.
“Contemplar não é opor-se à vontade, é seguir um outro ramo da vontade, é participar da vontade do belo, que é um elemento da vontade geral.” (Bachelard, 2002, pág. 32)
Fiquei repleta de imagens, imaginações e devaneios, e perdida nestas divagações, lembrei de uns escritos sobre a imagem e a imaginação que redigi há alguns anos.
Abaixo algumas imagens do filme:




Fontes das Imagens:
http://www.interfilmes.co/filme_v4_13305_Excalibur.html#Imagens

Links para os desenhos: Pasta Excalibur (Google Docs)

https://docs.google.com/folder/d/0B_XNZH0zDvTWejRHQ1ZaNGwxVWs/edit?usp=sharing

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A Imagem e a Imaginação

A imagem sempre esteve na origem da criação do homem. Durante a história das sociedades ela teve mais ou menos importância, havendo momentos de intensa celebração e momentos de completa repulsa. Nas artes ela sempre esteve presente materialmente nas pinturas das cavernas, nas telas e atualmente nas instalações, em se tratando das artes plásticas. Na Dança e nas Artes Cênicas, a imagem as vezes materializa-se, outras vezes sugere, provoca e comunica um universo desconhecido.

Em seu sentido etimológico, imagem é definida como “instância intermediária entre o sensível e o inteligível (...)”, na origem alemã, a palavra remete a uma força com um poder incomum, e há registros de uma origem grega comum das palavras imagem e magia (Matos, sem data). A primeira definição de imagem no Novo Dicionário Aurélio (1986), é “representação gráfica, plástica ou fotográfica de pessoa ou objeto.” Só ao final da conceituação a imagem é citada como manifestação sensível.

A imagem se relaciona com os sentidos e a percepção. Assim, um dos momentos no qual ela perde sua importância no pensamento humano é com Descartes que considera a imagem como fonte de erro. “O cartesianismo assegura o triunfo do signo sobre o símbolo. A imaginação, como aliás a sensação, é refutada por todos os cartesianos como a mestra do erro.” (Durand, sem data) O símbolo perde seu caráter sagrado e epifânico para decair em signo, em ícone, em mera representação (Durand, sem data).

Natureza da Imagem:

A imagem compreende toda forma de informação figurativa/ilustrativa, desde as pinturas nas cavernas de Lascaux; às telas renascentistas; às fotografias jornalísticas e às logomarcas que em nossa sociedade nos inundam de informação. Existe uma categoria de imagens chamada signo, que é a representação de uma idéia ou de um objeto. O signo situa-se no plano do sensório. Em contraposição ao signo, o símbolo pode se caracterizar em uma imagem, mas esta possui uma significação que não é possível nomear. O símbolo pertence ao mundo do sensível, e do invisível. Existe uma diferença entre as imagens-signo e as imagens-símbolo; e mesmo nessas duas categorias existe uma diferença da qualidade dessas imagens e do uso que se faz delas.

O sensório é diferente do sensível, enquanto o primeiro é essencialmente físico e se caracteriza pelas imediatas sensações provocadas pela estimulação de um ou mais orgãos dos sentidos, o sensível é mais abrangente incluindo toda a percepção que o homem pode desenvolver e vivenciar no mundo (Duarte Jr., 2004).

“(...) implica em saborear elementos do mundo e incorporá-los a nós (ou seja, trazê-los ao corpo para que dele passem a fazer parte).” (Duarte Jr., 2004)

Uma imagem-símbolo pode servir ao poder na afirmação de uma idéia, assim como uma imagem-signo pode simplesmente afirmar uma função. Nos meios comerciais, a publicidade faz uso das imagens (signo e símbolo) para a comercialização dos desejos e convencimento dos interesses.

Na produção do conhecimento e também na produção da arte, a imagem participa da criação de várias formas e em diversos níveis.

Pensando no inconsciente como gerador de imagens, seja através das intuições, dos sonhos ou dos delírios doentios, parece que a imagem surge baseada na realidade que conhecemos e vivemos. O significado que pode conter a imagem, é que talvez faça parte da criação ou elaboração inconsciente. Bachelard (2002) diz que “é preciso buscar por trás da imagem que se mostra, a imagem que se oculta.”

Bachelard (2002), em seu ensaio sobre a imaginação da matéria, discorre sobre a imaginação e sua presença na obra de arte poética. Nela distingue entre a imaginação material e a imaginação formal. A primeira se relaciona com a substância da matéria, com a sua alma. A segunda está na superfície que define o conceito. Há no entanto obras em que as duas imaginações encontram-se presentes. Sua obra traz para o artista um universo de encanto e inspiração, pois busca na essência da matéria a poesia e assim redescobre os elementos, em sua intimidade.

A proposta de Bachelard, é um mergulho no interior da matéria, (e no interior de nós mesmos) através do devaneio, que nada tem em comum com a distração, e sim com uma intencionalidade desinteressada na busca das imagens originais e verdadeiras. Os estóicos tinham duas palavras diferentes para imagem. Em uma delas, imagem é algo que toca a alma, deixando nela a sua marca (Abbagnano, 2000). Esta definição se aproxima do modo como Bachelard trata a imagem.

“A imaginação não é como sugere a etimologia, a faculdade de formar imagens da realidade; é a faculdade de formar imagens que ultrapassam a realidade, que cantam a realidade.” (Bachelard, 2002)

Bibliografia:
 
ABBAGNANO, N., Dicionário de Filosofia. São Paulo:Martins Fontes, 2000.
BACHELARD, G., A água e os sonhos. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
DUARTE JR., J. F., O sentido dos sentidos: a educação (do) sensível. Curitiba: Criar Edições, 2004.
DURAND, G., “A vitória dos iconoclastas ou o inverso dos positivismos”. A imaginação simbólica. São Paulo: Perspectiva, sem data.
FERREIRA, A. B. H., Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
MATOS, O., Imagens sem objeto. Sem editora, sem data.


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Dia 30 de Março
O Castelo Animado


Hayao Miyazaki é um animador japonês responsável por uma obra simbólica e mitológica. Em suas criações explora o mundo da fantasia abordando a humanidade do homem com suas características arcaicas e instintivas. Usando a mitologia e as lendas japonesas como cenário e tema, constrói um universo mágico com extremo cuidado.

Ainda movida por cenas, falas e melodias simbólicas, fui atrás também da trilha sonora.



Neste vídeo a música "Howl's moving castle", composta por Joe Hisaishi, é executada por um duo chamado Yumeduo.


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Aula do dia 22 de março

Logo no início da aula, enquanto Adilson falava do filme "Excalibur", eu comecei a pensar em algumas imagens do filme que me marcaram e que desenhei. A morte do Rei, era uma delas, e fiquei lembrando a imagem da lança atravessando a armadura, sendo transpassada na altura do peito de trás para frente. A ponta da lança sai manchada de sangue, rasgando o peito do Rei. Enquanto embarcava nessa imagem, 'surgiu' uma outra onde eu era a figura central. Eu estava parada, de pé,  no meio de um cômodo vazio e branco tendo espasmos de vômito. Não saia nada pela minha boca, mas aconteciam contrações fortes e sucessivas que sacudiam todo o meu corpo.
Fiquei surpresa com a imagem e lembrei que há uns dias atrás sonhei com uma ferida antiga que voltava a abrir.
Será que tem algo querendo vir a tona?
O inconsciente se manifestando.......
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Ainda no dia 22 de Março

Momento simbólico, imagético e emocionante, como tem sido toda semana. O inconsciente está sempre presente, aluno assíduo, materializa-se no desenvolvimento das falas e na concretização das ideias. O inconsciente é, e está presente o tempo todo. Ele surge no cotidiano; e vai se construindo em silêncio (consciente). Este silêncio não tem nada de quietude, calmaria ou imobilidade, muito pelo contrário, pode provocar revoluções, a luz do dia ou da noite.
O material simbólico pertence aos processos subterrâneos, ao inconsciente. Sendo vivo, repete-se e transforma-se.

Já no final da aula observando Adilson enquanto falava e era mobilizado pelo inconsciente, escrevi:
  
“O artista se emociona, sente e vive o que fala.
Silencia para que o inconsciente possa se presentificar.
O momento do nascimento, com sons e mãos,
assumiu outra dimensão.
É belo ver o corpo revolvido pelos símbolos,
conhecimento, emoções e imagens.
A pausa parece o desejo, ou a necessidade
de tentar vislumbrar a torrente de conexões que surgem.”

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