quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Imagens do Inconsciente

"Quando a pessoa se despotencializa põe para fora, na pintura, os fantasmas que estavam dentro dela. Despotencializadas, permitem que as forças autocurativas se manifestem." (Leon Hirszman)

A revista Continente, revista dedicada a cultura, com origens em Pernambuco, publicou na última edição uma matéria sobre a trilogia Imagens do Inconsciente, documentário ganhador do Leão de Ouro, filmado por Leon Hirszman no período de 1983 à 1986 e com roteiro de Nise da Silveira.  

“O resultado da colaboração entre Nise da Silveira e Leon Hirszman foi uma trilogia de documentários absolutamente original. Original não pela complexidade da linguagem cinematográfica mas exatamente o contrário: pelo uso de elementos mínimos, narração em voz off, imagens dos artista/pacientes pintando ou esculpindo, e imagens das suas obras. Com esses três elementos principais, o espectador faz uma viagem pelo mundo psíquico e a vida interior dos personagens – uma viagem instigante e dramática tendo como base as imagens artísticas produzidas por eles no museu.”

A trilogia segue a vida em imagens de três "clientes" do Hospital Pedro II em Engenho de Dentro - Rio de Janeiro: Fernando Diniz, Adelina Gomes e Carlos Pertuis.

Mandala, Obra de Fernando Diniz
Fernando Diniz, filho de uma empregada doméstica baiana, busca recuperar um espaço cotidiano sob a forma de um quadro - é a pintura em luta constante contra o caos, um caos vivenciado numa questão de amor, uma questão de paixão. Fernando submerge como uma auto-defesa para viver no inconsciente, mas não é um grande mergulho, é algo mais no nível do cotidiano.

Mulher - Flor, Obra de Adelina Gomes
Adelina Gomes, moça pobre, filha de camponeses, com o curso primário e alguma formação manual, tímida e submissa à mãe, nunca havia namorado até os 18 anos de idade. Aí apaixonou-se por um homem que não foi aceito pela mãe. Sujeitou-se e foi, aos poucos, se retraindo até que um dia estrangulou a gata, da qual gostava muito. Matando a gata, Adelina se negava como mulher, refugiando-se na loucura com grande agressividade.

 
O Planetário de Deus, Obra de Carlos Pertuis
 Nise da Silveira a descreve assim: "Carlos, há vários anos, vinha sendo dilacerado por conflitos pessoais. Esses conflitos sugavam a energia do ego que ia se enfraquecendo e já começava a vacilar. Certa manhã, raios de sol incidiram sobre o pequeno espelho do seu quarto. Brilho extraordinário que deslumbrou-o e surgiu diante dele uma visão cósmica: o "Planetário de Deus", segundo suas palavras. Gritou, chamou a família, queria que todos vissem também aquela maravilha que ele estava vendo. Foi internado no mesmo dia no velho hospital da Praia Vermelha. Isso aconteceu em setembro de 1939. Carlos tinha então 29 anos". Sua mãe recomendou o internamento, e ele ficou lá o resto da vida. 

A matéria de Josias Teófilo, assim como o documentário pode ser visto no site Revista Continente

Fontes:
http://www.terra.com.br/cinema/favoritos/inconsciente.htm
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

As Marcas do Corpo






"Alguns já disseram que o corpo não mente. Mais que isso, ele conta muitas estórias e em cada uma delas há um sentido a descobrir...O corpo é nossa memória mais arcaica....Podemos perdoar alguém com a mente...Podemos perdoar com o coração, sinceramente...Mas o corpo é frequentemente o último que perdoa. Sua memória é sempre muito viva... A palavra anamnese deriva da palavra grega anamnésis e significa recordação, lembrança...Denomino anamnese essencial à arte e à prática de se lembrar do Ser através das memórias do corpo físico e das marcas psicológicas deixadas nesse corpo...Trata-se, pois, de escutar cada uma das partes de nosso corpo...,[de cuidar] do corpo, do psiquismo e também do ser espiritual".
Jean-Yves Leloup em "O corpo e seus símbolos".


domingo, 8 de dezembro de 2013

Meu encontro com Carlos Zens

Em Natal, tive o prazer e a possibilidade de encontrar um ser de luz, artista mágico que em poucos minutos, encantou-me e me preencheu de uma graça que só acontece em momentos onde o sublime se estabelece.
Carlos Zens é um músico contemporâneo, que transita entre o popular e o erudito, construindo melodias que cantam, emocionam e fazem brotar um movimento único e primordial; coletivo e sensível. Desse encontro surgiu o encantamento e a reverência. 
Reverência que acontece espontaneamente quando estamos diante do infinito, diante de um artista que move o mundo com a sua sensibilidade.
Desse encontro, alguns instantes, palavras e gestos de Carlos Zens, permaneceram comigo e transformaram-se no papel em uma nova construção, textual e emotiva.


O encontro com Carlos Zens me fez sentir diante de uma grandeza incalculável, o Cosmos: grande e frágil.
No início da conversa foi contando da sua história, das suas escolhas. Não queria simplesmente se juntar a uma orquestra. Pensava o seu caminho, sonhava o seu caminho...
Da escolha do caminho, se impôs a escolha do mercado. Imposições que não são fáceis de lidar, e quase nunca são justas.
Ele trabalha com a música, os sons que surgem em sua cabeça...(ou em sua alma?)
Ele trabalha com gente, alunos que vão surgindo em seu caminho, e que ele gentilmente vai dando aulas, conversando, emprestando instrumentos, conduzindo pela vida. O seu respeito pelo outro é profundo e segue a mesma delicadeza das notas que saem da sua flauta.
Falando sobre seus momentos de criação, foi falando das 'acontecências': acordou com uma música de Mozart na cabeça, e foi ela que conduziu uma nova composição.
Entre os sons da sua fala, e o passeio dos seus olhos, me sentia grata por compartilhar tantos momentos especiais de criação. Devaneei com Carlos Zens e quando voltei a realidade, ele falava em "Sagrar ….. Sagração …". Participava de um evento e a Sagração surgiu. Lembrei de Nijinsky e sua Sagração. De repente tantas coisas me vieram a mente.....
O mito da Sagração, que se relaciona com a terra e o simples.... com o primordial. Primordial como Carlos Zens e sua música.
Começou a falar das composições. Sua cabeça está cheia de coisas que desconhece, essas coisas afloram e buscam o suporte da sua mão, que transforma imagem em escrita musical e depois em som melodioso.
Senti uma reverberação agoniada em seu corpo, as criações o afetam profundamente. O que se exterioriza em sua fala é uma ínfima parte do que o revolve. Uma intensa ebulição o acomete, e ele em sua calma quase baiana, vai permitindo que migalhas desse processo transpareçam.
Tantas coisas foram ditas....... surgiu Jung e eu fiquei incrédula que realmente não estivesse sonhando. Perguntou do meu trabalho, do que eu pesquisava, e ao descrever a pesquisa com Jung, ele citou, de repente, "O Homem e os seus Símbolos" e depois foi pegar em seu quarto outro livro de Jung "O espírito na Arte e Ciência". Não era acaso, palavra melhor seria 'sincronicidade', mas tantas outras poderiam surgir, até 'um encontro de alma'.
Senti um respeito sagrado pelo seu momento, pela sua entrega, pela sua delicadeza e pela sua arte.
Um artista profundo e delicado, como o Cosmos que nos envolve.


sábado, 7 de dezembro de 2013

Sonhos

"Sonhos são produtos imparciais, espontâneos da psique, fora do controle da vontade. São pura natureza; eles nos mostram a verdade sem verniz, e são capazes de nos auxiliar a recuperar uma atitude em concordância com nossa natureza humana básica nos momentos da vida em que nossa consciência se perdeu de seus fundamentos e encontra-se em um impasse." (O significado da Psicologia para o Homem Moderno, 1933 - Civilização em Transição - C.G.Jung)


"A estratificação evolutiva da psique é mais claramente perceptível no sonho do que na mente consciente. No sonho, a psique fala em imagens, e dá expressão a instintos, os quais derivam dos níveis mais primitivos da natureza. Portanto, através da assimilação dos conteúdos inconscientes, a vida momentânea da consciência pode uma vez mais ser trazida em harmonia com a lei da natureza da qual muito facilmente se afasta, e o paciente pode ser reconduzido à lei natural do seu próprio Ser." (O uso prático da análise de sonhos, 1934 - A Prática da Psicoterapia - C.G.Jung)