sábado, 21 de setembro de 2013

A Espada, o Âmbar e a Água

A aventura desses três elementos começou com um convite de uma música, que possuia nuances medievais.
Eu estava deitada no chão, a melodia foi ressoando e me levando para terras distantes. Surgiu uma floresta, cavaleiros com seus cavalos, roupas metálicas, lanças e espadas. O ambiente de uma aldeia medieval encravada no meio da floresta tinha uma dualidade de sentimentos e cores, onde coexistiam o lúdico e o masculino.
As lanças furavam o espaço em muitos planos, as vezes simultaneamente, assumindo direções opostas com muita força e vigor. Uma delas entrou em uma pedra, o que me lembrou a história de Arthur e Merlin: Excalibur. Apesar das espadas, não experimentei o sentimento de morte, tristeza ou finitude.


Minhas mãos foram percorrendo o espaço embaladas pela melodia e aos poucos foram transformando-se nas pontas das lanças e espadas, que perfuravam o espaço, traçando linhas retas em variadas direções. Quando voltei ao chão para um repouso dessa primeira imagem, a sensação de retidão ainda existia, ainda sentia que as linhas persistiam, apesar de me recolher em uma forma arredondada.
Um segundo convite surgiu após o momento tão forte das espadas medievais. No centro da sala, imagens distintas eram espalhadas em uma diversidade de formas e cores. Do rápido passeio dos olhos uma delas chamou a atenção e o coração. Era uma imagem de um rio, uma cachoeira com água brilhante e um reflexo de sol.
Essa água me fisgou e imediatamente me enchi dela; senti-me mareada, com os olhos inundados daquela água com brilho.
Desviei os olhos para que a água não escorresse e imediatamente outra imagem me alcançou. Sem entender racionalmente o que era fiquei presa em sua configuração disforme. Era algo arredondado que parecia ter pelos ou espinhos, com um líquido viscoso que escorria assimetricamente. Identifiquei o líquido com o âmbar, material arcaico originado de pinheiros ancestrais com resquícios de material fóssil.


A ideia do âmbar com sua estrutura viscosa escorrendo sobre uma forma arredondada e estruturada tomou meu corpo/movimento; o disforme na forma. O escorrer nos espinhos trouxe uma sensação de dor que não podia ser freada; como uma tarefa que precisa ser cumprida a todo e qualquer custo; tarefa doída.
Algumas ideias surgiram dessa imagem: o maleável no concreto, o vazio no cheio, o informe na forma, o duvidoso e a assertividade, o desconhecido e talvez novo.
O âmbar viscoso escorregando foi se transformando na água fluida, que descortinou outra intensidade. A água do rio, da cachoeira, que passa por entre as pedras, que encontra retenção e é refreada.... O som da água veio com tranquilidade, esta água não era violenta era calma e constante. A água entrou e ficou em mim; muita água que com a mesma tranquilidade do som me inundava, tirando tudo lugar, alterando as posições e espaços.
Pensei em como a água encontra caminhos nos lugares mais difíceis, entre pedras, raízes e obstáculos. Persegui esses caminhos, mas não cheguei a lugar nenhum, continuei com todo o volume que me tomou sem conseguir dar vazão a ele.


Por que a água ainda?
Por que ainda me inunda?
Os símbolos surgiram fortes e potentes, cada um com uma característica: a espada de metal vigorosa; o âmbar viscoso que antecede a formação da resina e carrega consigo marcas de um tempo primitivo; e a água que escorre, preenche e abre os espaços com calma ou violência, impondo-se aos desejos e necessidades.
As imagens surgem poderosas, carregam além da figuração, emoção, sentimento e percepção do mundo. Dessa forma provocam narrativas que podem ser identificadas com as necessidades ou vivências do indivíduo imaginante. Ouvir os desdobramentos das imagens nas individualidades, reforçou uma palavra: encontro.
O encontro é a identificação com algo que produz uma ressonância no meu espaço interno. As escolhas tem a ver com os encontros, e até onde escolhemos nossos encontros? Não seria a necessidade do encontro que nos escolhe?
Escolher talvez seja encontrar o que é preciso, ou o que me completa, a parte que me faz falta.
“É preciso seguir essas imagens que nascem em nós mesmos, que vivem em nossos sonhos, essas imagens carregadas de uma matéria onírica rica e densa que é um alimento inesgotável para a imaginação material.” (Bachelard, 2002)

Fontes:
BACHELARD, G. A água e os sonhos. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
Fontes das Imagens:
http://noticias.band.uol.com.br/ciencia/noticia/?id=100000456121
http://www.interfilmes.co/filme_v4_13305_Excalibur.html#Imagens
http://osegundoregistro.blogspot.com.br/2011_07_01_archive.html

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