A aventura desses três elementos começou com um convite de uma
música, que possuia nuances medievais.
Eu estava deitada no chão, a melodia foi ressoando e me levando para
terras distantes. Surgiu uma floresta, cavaleiros com seus cavalos,
roupas metálicas, lanças e espadas. O ambiente de uma aldeia
medieval encravada no meio da floresta tinha uma dualidade de
sentimentos e cores, onde coexistiam o lúdico e o masculino.
As lanças furavam o espaço em muitos planos, as vezes
simultaneamente, assumindo direções opostas com muita força e
vigor. Uma delas entrou em uma pedra, o que me lembrou a história de
Arthur e Merlin: Excalibur. Apesar das espadas, não experimentei o
sentimento de morte, tristeza ou finitude.
Minhas mãos foram percorrendo o espaço embaladas pela melodia e aos
poucos foram transformando-se nas pontas das lanças e espadas, que
perfuravam o espaço, traçando linhas retas em variadas direções.
Quando voltei ao chão para um repouso dessa primeira imagem, a
sensação de retidão ainda existia, ainda sentia que as linhas
persistiam, apesar de me recolher em uma forma arredondada.
Um segundo convite surgiu após o momento tão forte das espadas
medievais. No centro da sala, imagens distintas eram espalhadas em
uma diversidade de formas e cores. Do rápido passeio dos olhos uma
delas chamou a atenção e o coração. Era uma imagem de um rio, uma
cachoeira com água brilhante e um reflexo de sol.
Essa água me fisgou e imediatamente me enchi dela; senti-me mareada,
com os olhos inundados daquela água com brilho.
Desviei os olhos para que a água não escorresse e imediatamente
outra imagem me alcançou. Sem entender racionalmente o que era
fiquei presa em sua configuração disforme. Era algo arredondado que
parecia ter pelos ou espinhos, com um líquido viscoso que escorria
assimetricamente. Identifiquei o líquido com o âmbar, material
arcaico originado de pinheiros ancestrais com resquícios de material
fóssil.
A ideia do âmbar com sua estrutura viscosa escorrendo sobre uma
forma arredondada e estruturada tomou meu corpo/movimento; o disforme
na forma. O escorrer nos espinhos trouxe uma sensação de dor que
não podia ser freada; como uma tarefa que precisa ser cumprida a
todo e qualquer custo; tarefa doída.
Algumas ideias surgiram dessa imagem: o maleável no concreto, o
vazio no cheio, o informe na forma, o duvidoso e a assertividade, o
desconhecido e talvez novo.
O âmbar viscoso escorregando foi se transformando na água fluida,
que descortinou outra intensidade. A água do rio, da cachoeira, que
passa por entre as pedras, que encontra retenção e é refreada....
O som da água veio com tranquilidade, esta água não era violenta
era calma e constante. A água entrou e ficou em mim; muita água que
com a mesma tranquilidade do som me inundava, tirando tudo lugar,
alterando as posições e espaços.
Pensei em como a água encontra caminhos nos lugares mais difíceis,
entre pedras, raízes e obstáculos. Persegui esses caminhos, mas não
cheguei a lugar nenhum, continuei com todo o volume que me tomou sem
conseguir dar vazão a ele.
Por que a água ainda?
Por que ainda me inunda?
Os símbolos surgiram fortes e potentes, cada um com uma
característica: a espada de metal vigorosa; o âmbar viscoso que
antecede a formação da resina e carrega consigo marcas de um tempo
primitivo; e a água que escorre, preenche e abre os espaços com
calma ou violência, impondo-se aos desejos e necessidades.
As imagens surgem poderosas, carregam além da figuração, emoção,
sentimento e percepção do mundo. Dessa forma provocam narrativas
que podem ser identificadas com as necessidades ou vivências do
indivíduo imaginante. Ouvir os desdobramentos das imagens nas
individualidades, reforçou uma palavra: encontro.
O encontro é a identificação com algo que produz uma ressonância
no meu espaço interno. As escolhas tem a ver com os encontros, e até
onde escolhemos nossos encontros? Não seria a necessidade do
encontro que nos escolhe?
Escolher talvez seja encontrar o que é preciso, ou o que me
completa, a parte que me faz falta.
“É preciso seguir essas imagens que nascem em nós mesmos, que
vivem em nossos sonhos, essas imagens carregadas de uma matéria
onírica rica e densa que é um alimento inesgotável para a
imaginação material.” (Bachelard, 2002)
Fontes:
BACHELARD, G. A água e os sonhos. São Paulo: Martins
Fontes, 2002.
Fontes das Imagens:http://noticias.band.uol.com.br/ciencia/noticia/?id=100000456121
http://www.interfilmes.co/filme_v4_13305_Excalibur.html#Imagens
http://osegundoregistro.blogspot.com.br/2011_07_01_archive.html
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