Reencontro
com Nêgo
“Viver de arte é resistência, mas é o que me faz feliz [...]”
(Nêgo, apud Moura, 2013)
É curioso pensar na vida consciente e inconsciente...
Quantos passos, pessoas, sons, e amores vão atravessando o nosso
caminho... Alguns ficam para sempre, outros na superficialidade da
pele, e outros ainda, vão para a profundidade da memória. Mas
reencontros acontecem, e um simples gesto ou uma imagem podem
deflagrar todo um universo de lembranças e emoções. O que nos
marca, marca para sempre, independente do tamanho da cicatriz. Foi
isso o que aconteceu hoje ao me deparar com uma matéria sobre,
Geraldo Simplício, ou Nêgo como é conhecido.
Artista cearense radicado em Nova Friburgo, região serrana do Rio de
Janeiro, Nêgo faz esculturas no barro e pedra, e deixa que a
natureza o ajude na criação, cobrindo seus movimentos com musgo,
que Nêgo vai podando numa atitude de cumplicidade com a vida e a
arte.
Intuitivo, Nêgo usa um tapa-olho na testa, para proteger o 6o
chakra, que se relaciona a intuição e a percepção sutil. Foi com
essa intuição que chegou ao tipo de arte que produz hoje. Em sua história original já havia trabalhado com barro, mas foi com a madeira que se estabeleceu como artista. “[...]
Eu fazia esculturas de madeira, e esse tipo de trabalho começou por
acaso. Deixei uma dessas obras ao ar livre e protegi com plástico.
Depois de um tempo, vi que havia musgo em tudo. Nunca mais parei
[...]”(Moura, 2013)
As esculturas estão em permanente transformação. Construídas nos
barrancos de sua propriedade seguem o ritmo e os acontecimentos da
natureza. Foi o que aconteceu com as chuvas de 2011 que atingiram Nova
Friburgo e sua propriedade, destruindo e danificando algumas obras.
Nêgo pacientemente reelaborou o que foi desfeito e reconstruiu.
Estive em sua propriedade em 2005 e enquanto visitava o jardim e suas
construções fui escutando suas histórias e impressões. Ainda não
entendia certas questões do fazer do artista e sua relação com o
inconsciente; mas foi dele que escutei pela primeira vez uma afirmativa
que ouvi depois em outros lugares e situações. Disse ele: “[…]
nas profundas águas do lago, o louco e o artista mergulham; no
entanto só o artista consegue nadar sem se perder, e depois de
explorar a profundidade das águas escuras consegue emergir e
respirar. O louco não consegue encontrar o caminho de volta.”
(Nêgo, comunicação pessoal, 2005)
Me encantei com suas palavras, mesmo sem entendê-las em
profundidade, lembrei de Nijinski de seu processo de loucura e
naquele momento, me perguntei se ele havia perdido o caminho num
mergulho assim.
Fontes
Bibliográficas:
MOURA,
A. Revista O Globo Caderno Serra, 12/05/13.
Fontes
das Imagens:
http://mapadecultura.rj.gov.br/nova-friburgo/geraldo-simplicio/
http://www.viagemesabor.com.br/noticias/roteiros/br/sudeste/rj/tere_fri_jardim_do_nego
http://www.facool.com.br/blog/index/page/76
http://osmeuslinksforenses.blogspot.com.br/2012/09/jardim-do-nego.html
http://artsedge.kennedy-center.org/arts-days/march/12.aspx
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