" O tempo presente. Os homens presentes. A vida presente"
Casa – substantivo feminino, moradia, construção com distintos
formatos destinada a habitação, lar.
Paulo Marques – substância adjetivada pelo afeto, corpo habitado
por conhecimento, muitas horas de aula de dança, diálogos,
escritos e gestos.
Entrei no teatro, pensando em uma casa, casa que tinha algumas
referências e muito afeto. Lembrei da definição do dicionário e
ao percorrer com os olhos o espaço do palco, senti um espaço cheio,
habitado por muitos gestos que se mantinham presentes.
O palco, sem cenário, remeteu a interioridade do ser e do espaço
vazio proposto por Santiago Barbuy no texto “O espaço do encontro
Humano”, espaço de possibilidades , de existência, de criação,
de riscos verdadeiros e descobertas. Pressentia que ali, naquele
espaço vivenciaria experiências e dançaria espaços de outra vida.
O espaço vazio é o espaço verdadeiro de ser humano, de
questionamentos, dúvidas, sofrimentos e consciência. O artista
enfrenta o espaço vazio como espaço de possibilidades e cria a
partir do vazio, uma nova concepção de realidade. Cria um
entendimento de mundo e uma forma de comunicar relacionada com a
consciência de si e da própria vida. O espaço vazio é repleto de
espacialidade, que é a possibilidade de concretizar os valores
anímicos, subjetivos e criativos.
Paulo entrou, alterou a luz, olhou o público sem pressa. A partir
daí uma sucessão de narrativas e movimentos, foram descrevendo
cenários e imagens, que ora construíam-se no silêncio, ora em
melodias que somavam sentidos a cena que se desvelava.
Vi e vivi momentos intensos, chorei e lembrei. Nos movimentos de
Paulo, descobria histórias, lembrava momentos e com a abertura de
alguns portais, presentificaram-se vidas, infâncias, dúvidas,
buscas, frustrações ….. Narrativas foram se desdobrando,
elaborando novos caminhos e significações.
Nas sombras que o corpo de Paulo produzia no espaço, via muitos
Paulos, de muitas fases e realidades. Como o arquétipo da sombra
descrito por Jung, vi o que não reconheço em mim, mas que faz parte
de mim. Vi partes de Paulo, que também eram Paulo.
Como uma flor, Paulo foi despetalando movimentos, frases, memórias e
presenças. Com o público, experimentava a verdade de uma vida, a
honestidade do corpo em movimento que tornava a cena mais generosa e
mais emocionante.
A casa – Paulo – potente, mobilizou a casa – plateia, sedenta
de origens, processos e habitações. A casa – Paulo – corpo
mostrou-se forte e fantasiosa, fonte de espaços habitados,
construídos e lembrados; de espaços desabitados, desconstruídos e
deslembrados.
Uma casa – Paulo – portal abriu inúmeras possibilidades de
reflexão e apropriação de espaços desocupados em todos os que
compartilharam Casa com ele.
Gratidão!!!!!!
Fotografia: Maurício Maia
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