sexta-feira, 29 de maio de 2020


 Sagração da Primavera: Lembrança e Comemoração

Há 107 anos atrás estreava em Paris no Théâtre des Champs - Élysées, “A Sagração da Primavera”, balé com música de Igor Stravinsky e coreografia de Vaslav Nijinsky. A obra, música e dança , causou furor e vaias numa plateia que sentiu-se agredida por movimentos incompreensíveis para aquele momento.


A segunda criação de Nijinsky é tão polêmica quanto a primeira, “L’aprés midi d’un Faune”, e teve dificuldade (a princípio) de encontrar seu espaço, dada a inovação e profundidade artística. A encenação de uma existência primitiva e o sacrifício de uma jovem para fecundar a terra e propiciar uma boa colheita, chega à cena através de elementos míticos e simbólicos, a ritualização de um sacrifício em movimentos fortes, posições arqueadas dos corpos, posição interna dos pés; saltos e tremores em um corpo que se volta para si mesmo.


Nestes mais de 100 anos, inúmeros coreógrafos construíram suas versões para esse ritual, respondendo a provocação que a obra/tema carrega. Até seu centenário, em 2013, existiam mais de 200 releituras /recriações registradas, e esse número só aumenta com novos trabalhos e novos olhares que vão construindo uma nova forma de ritualização do sacrifício.

A obra original se perdeu, restando apenas desenhos, partituras, textos e fotografias; material reunido e reconstruído arqueologicamente pelos pesquisadores Millicent Hodson e Kenneth Archer. Graças a essa pesquisa, a obra existe desde 1987, sendo reapresentada em vários Teatros e Companhias pelo mundo afora. Em 2014, tive a oportunidade de entrevistar essa importante pesquisadora que me presenteou com seus desenhos, fotos, ensaios e informações sobre seu trabalho de pesquisa. Lembrança e Comemoração.



 





































Fonte das imagens:

domingo, 27 de outubro de 2019

Museu de Imagens do Inconsciente - Campanha de Benfeitoria


Uma campanha de financiamento coletivo esta aberta para expansão e proteção do acervo do Museu de Imagens do Inconsciente.
"Um espaço de afeto, coragem e arte. 
O Museu Imagens do Inconsciente reuniu ao longo de 70 anos cerca de 400 mil obras que guardam um importante capítulo da história da arte brasileira e representam uma comunidade de usuários de serviços de saúde mental em um processo baseado no convívio, no afeto, na redução de estigma e ações de cidadania.
 A instituição foi criada para acolher a abundante produção dos ateliês da Seção de Terapêutica Ocupacional do Centro Psiquiátrico Nacional, no Rio de Janeiro. O tratamento conduzido pela psiquiatra Nise da Silveira usava a arte no lugar dos tratamentos psiquiátricos tradicionais à época, como o eletrochoque, a lobotomia, o coma insulínico.
O Museu de Imagens do Inconsciente (MII) possui a  maior coleção do mundo no gênero. Grande parte dessas obras foi tombada pelo IPHAN, como reconhecimento da importância dessas obras para a cultura brasileira. 
Esse acervo gerou exposições, filmes, publicações – resultado de pesquisas e atividades múltiplas do museu em seus vários setores. Tem servido de inspiração para profissionais de várias áreas, que incorporam os princípios de liberdade e criatividade, da expressão espontânea, em suas práticas. 
É por acreditar que esses fundamentos são essenciais para qualquer pessoa ou cidadão integrar à sua vida para viver uma existência onde a saúde mental se traduz em equilíbrio e harmonia com o meio ambiente que o MII está ampliando sua capacidade de atendimento e serviço à população, com a integração de novos espaços e a requalificação de seu entorno." (Texto descritivo do Projeto com seus objetivos) Para acessar e participar da campanha acesse Aqui
 
Referências:
https://benfeitoria.com/imagensdoinconsciente?ref=benfeitoria-pesquisa-projetos
http://www.museuimagensdoinconsciente.org.br/#index
https://desenhosrealistas.com.br/loucura-e-arte-como-cura/

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Palavras para "Casa"


" O tempo presente. Os homens presentes. A vida presente"

    Casa – substantivo feminino, moradia, construção com distintos formatos destinada a habitação, lar.
    Paulo Marques – substância adjetivada pelo afeto, corpo habitado por conhecimento, muitas horas de aula de dança, diálogos, escritos e gestos.
Entrei no teatro, pensando em uma casa, casa que tinha algumas referências e muito afeto. Lembrei da definição do dicionário e ao percorrer com os olhos o espaço do palco, senti um espaço cheio, habitado por muitos gestos que se mantinham presentes.
O palco, sem cenário, remeteu a interioridade do ser e do espaço vazio proposto por Santiago Barbuy no texto “O espaço do encontro Humano”, espaço de possibilidades , de existência, de criação, de riscos verdadeiros e descobertas. Pressentia que ali, naquele espaço vivenciaria experiências e dançaria espaços de outra vida.
O espaço vazio é o espaço verdadeiro de ser humano, de questionamentos, dúvidas, sofrimentos e consciência. O artista enfrenta o espaço vazio como espaço de possibilidades e cria a partir do vazio, uma nova concepção de realidade. Cria um entendimento de mundo e uma forma de comunicar relacionada com a consciência de si e da própria vida. O espaço vazio é repleto de espacialidade, que é a possibilidade de concretizar os valores anímicos, subjetivos e criativos.
Paulo entrou, alterou a luz, olhou o público sem pressa. A partir daí uma sucessão de narrativas e movimentos, foram descrevendo cenários e imagens, que ora construíam-se no silêncio, ora em melodias que somavam sentidos a cena que se desvelava.
Vi e vivi momentos intensos, chorei e lembrei. Nos movimentos de Paulo, descobria histórias, lembrava momentos e com a abertura de alguns portais, presentificaram-se vidas, infâncias, dúvidas, buscas, frustrações ….. Narrativas foram se desdobrando, elaborando novos caminhos e significações.
Nas sombras que o corpo de Paulo produzia no espaço, via muitos Paulos, de muitas fases e realidades. Como o arquétipo da sombra descrito por Jung, vi o que não reconheço em mim, mas que faz parte de mim. Vi partes de Paulo, que também eram Paulo.



Como uma flor, Paulo foi despetalando movimentos, frases, memórias e presenças. Com o público, experimentava a verdade de uma vida, a honestidade do corpo em movimento que tornava a cena mais generosa e mais emocionante.
A casa – Paulo – potente, mobilizou a casa – plateia, sedenta de origens, processos e habitações. A casa – Paulo – corpo mostrou-se forte e fantasiosa, fonte de espaços habitados, construídos e lembrados; de espaços desabitados, desconstruídos e deslembrados.
Uma casa – Paulo – portal abriu inúmeras possibilidades de reflexão e apropriação de espaços desocupados em todos os que compartilharam Casa com ele.
Gratidão!!!!!!
Fotografia: Maurício Maia