quarta-feira, 11 de junho de 2014

Lendo imagens com Fernando Pessoa

No curso "Prática Junguiana - Aprofundamento", o texto de Fernando Pessoa foi lido pela professora e psicóloga Elizabeth Melo, como inspiração para o debate e produção de imagens. A imagem abaixo também foi fornecida por ela.


Para ler imagens

O entendimento dos símbolos e dos rituais (simbólicos) exige do intérprete que possua cinco qualidades ou condições, sem as quais os símbolos serão para ele mortos, e ele um morto para eles.
A primeira é simpatia; não direi a primeira em tempo, e cito por graus de simplicidade. Tem o intérprete que ter simpatia pelo símbolo que se propõe interpretar. A atitude de cauta, a irônica, a deslocada - todas elas privam o intérprete da primeira condição para poder interpretar.
A Segunda é a intuição [...]. Por intuição se entende aquela espécie de entendimento com que se sente o que está além do símbolo, sem que se veja.
A terceira é a inteligência. A inteligência analisa, decompõe, ordena, reconstrói noutro nível o símbolo; tem, porém, que faze-lo depois que se usou da simpatia e da intuição. Um dos fins da inteligência, no exame dos símbolos, é o de relacionar no alto o que está de acordo com a relação do que está embaixo. Não poderá fazer isso se a simpatia não tiver lembrado essa relação, se a intuição a não tiver estabelecido. Então a inteligência de discursiva que naturalmente é, se tornará analógica, e o símbolo poderá ser interpretado.
A Quarta é a compreensão, entendendo por esta palavra o conhecimento de outras matérias, que permitam que o símbolo seja iluminado por várias luzes, relacionados com vários outros Símbolos, pois que, no fundo, é tudo o mesmo. Não direi erudição, como poderia ter dito, pois a compreensão é uma vida. Assim aceitos símbolos não podem ser bem entendidos se não houver antes, ou no mesmo tempo, o entendimento de símbolos diferentes.
A Quinta é menos definível. Direi talvez, falando a uns que é a graça, falando a outros que é a mão do Superior Incógnito, falando a terceiros que é o Conhecimento e Conversação do Santo Anjo da Guarda, entendendo cada uma destas coisas, que são a mesma da maneira como as entendem aqueles que delas usam, falando ou escrevendo.
Fonte:
Fernando Pessoa, Obras Completas, Rio de Janeiro: Nova Aguilar S. A , 1986, p. 4)

Nenhum comentário:

Postar um comentário