quinta-feira, 26 de julho de 2012

“Da raiz, a seiva sobe pelo artista, desliza-lhe por dentro, desliza até os olhos. O artista é o tronco da árvore. Vencido e ativado pela força da corrente, converge a sua visão para sua própria obra ... Não faz nada além de recolher e transmitir o que surge do profundo. Ele não serve nem manda, mas transmite. A sua posição é humilde. E a beleza final não é sua, é somente passado através de si próprio.” 
 Paul Klee

terça-feira, 24 de julho de 2012


A Criação Artística com Rilke e Bausch
Sempre que assisto a algum espetáculo que me afeta, penso no quanto pode ser rica e simbólica uma obra de arte. O poder de comunicação nesse caso vai ao extremo, vai além da nossa articulação linguística.
Uma vez ao sair do teatro ouvi uma pessoa que dizia: “Não entendi nada, mas gostei p'ra caramba!” Era um espetáculo da Denise Namura, brasileira radicada na França que tem uma pesquisa valiosa na dança. Seu trabalho segue o nosso dia-a-dia (nossos amores, vaidades, iras, loucuras; nossos pequenos gestos e nossas intenções) de uma forma lúdica, leve e cômica. Penso se ela busca a verdade no seu trabalho, e se pessoalmente a encontra.
Acredito que um trabalho para comunicar algo, alcançar o público (o mais distante e o que tem menos afinidade), deve conter elementos da lacuna que o artista carrega em sua vida. Lacuna que nunca chega a ser preenchida pois parece se desdobrar em questões.
Rainer Maria Rilke em suas “Cartas a um jovem poeta” diz em determinado momento: “Volte-se para si mesmo. Investigue o motivo que o impele a escrever; comprove se ele estende as raízes até o ponto mais profundo do seu coração, confesse a si mesmo se o senhor morreria caso fosse proibido de escrever. Sobretudo isto: pergunte a si mesmo na hora mais silenciosa de sua madrugada: preciso escrever? Desenterre de si mesmo uma resposta profunda. E, se ela for afirmativa, se o senhor for capaz de enfrentar essa pergunta grave com um forte e simples 'Preciso', então construa sua vida de acordo com tal necessidade; sua vida tem de se tornar, até na hora mais indiferente e irrelevante, um sinal e um testemunho desse impulso.” (Rilke, 2011, p. 25)
Levando esse pensamento para a Dança, faria a pergunta: É preciso Dançar?, e além dela, O que devo Dançar?
Além das preocupações técnicas e dos floreios, uma das coisas mais difícieis no processo de criação, é a decisão do que mover, para onde e quanto. Quanto me basta para exprimir uma sensação? Que movimento posso fazer que seja verdadeiro para mim e para o público também? Como limitar o que é necessário? Como sobrepor esta necessidade aos meus anseios estéticos? Ao sair do filme “Pina” de Win Wenders, essas perguntas me assaltaram.
Pina Bausch construiu espetáculos belos, poéticos, delicados, profundos .... verdadeiros. Não conheço seus esboços, seus rascunhos e suas questões, posso dizer da grandiosidade que sinto ao assistir seus movimentos; da elevação da minha sensibilidade, do respeito pela artista que cumpriu com seu caminho. É um sentimento que beira ao sublime.
Suas obras encantam, falam do invisível que nos rodeia, da magia dos nossos afetos, da simplicidade da nossa existência. No texto/discurso dos bailarinos, vemos a Pina humana, generosa, que movia os bailarinos através de olhares e questões, que dizia uma palavra, ou não dizia nada; e isso fazia toda a diferença para eles.
Talvez Pina comungasse dos questionamentos de Rilke, e indo além do “É preciso escrever?”, e “É preciso Dançar?”, ela acrescentasse “É preciso Calar?”
Conduzir um processo criativo e despertar a verdade contida nos cantos mais profundos da alma humana, é uma atitude difícil. Qual seria a medida nessa avaliação? O sentimento, a percepção? Algumas palavras brincam no meu pensamento: risco, intuição e confiança. As palavras se misturam e surge arriscar o risco, risco na intuição e confiança arriscada. Na criação não existe certeza, conforto e comodidade; existe a dúvida, o medo e a insegurança. O artista se guia pelo risco, pela intuição e tenta sentir confiança pelas sugestões que vão aparecendo.
Na Psicologia Analítica, Jung descreve o inconsciente como produtor de imagens e sugestões que alcançam o consciente.
O inconsciente move o material simbólico e este muitas vezes se materializa nas obras de arte, alcançando extratos arcaicos comuns a humanidade. É o que faz uma obra de arte sair da categoria “estética” para a categoria”simbólica”. É o que traz o engrandecimento do público, na fala de que gosta, mas não sabe porque gosta. É a sensação de sublime em Pina Bausch. É a verdade proposta por Rilke.
A obra de arte simbólica afeta o artista, afeta o outro, preenche a existência e descobre as certezas, numa ampliação da própria vida.


Acrescento o trailler do filme "Pina" do diretor alemão Win Wenders, para que a imagens e sugestões sobre Pina Bausch possam se completar.



quinta-feira, 19 de julho de 2012

Texto e Imagens de Construção coreográfica

Ainda sobre o processo de criação e construção na comunidade Vila Sapê, compartilho o texto construido a partir do Estatuto da Criança e do Adolescente e das conversas sobre o dia-a-dia das crianças integrantes do projeto. As imagens que se seguem ao texto fazem parte dos dias de montagens e ensaios da coreografia "Vela".

 
Direitos e Deveres
Nossas mãos recebem a vida, preparam o amanhã através do que fazemos hoje.
Nossas mãos suportam o mundo, trabalham e ensinam. São as mesmas que mandam, obrigam, proibem e batem...
Essas mãos nos dizem constantemente o que fazer, reforçam e repetem os nossos deveres
Mas porque só deveres? Deveres, deveres, deveres ….
Porque só o que devemos e não o que podemos?
Somos crianças, e temos não só deveres, mas direitos também.
Eu tenho direito à vida e tenho o dever de preservar a vida do meu próximo.
Eu tenho direito à saúde e tenho o dever de não provocar doenças e machucados nos outros.
Eu tenho direito à liberdade, sou livre e não mais escravo.
Eu tenho direito ao respeito e a dignidade e tenho o dever de respeitar os mais velhos, meus professores, pais e amigos.
Eu tenho o direito à convivência familiar e comunitária e tenho o dever de não discriminar e nem tratar os outros com preconceitos.
Eu tenho direito ao esporte e ao lazer, tenho o direito de brincar e jogar bola.
Eu tenho direito à ter um registro para ser reconhecido como pessoa e assim cumprir com todos os meus deveres.
Eu tenho direito à Educação, à cultura, tenho o direito de estar na escola e aprender.
Eu tenho o direito de ser eu mesmo e não ser o que os outros querem que eu seja; e tenho o dever de lutar por mim.
Conhecendo os meus direitos e deveres compreendo melhor o mundo e contribuo para que a vida seja melhor.
Dessa forma encontro amigos, amigos verdadeiros que me ajudam a melhorar, progredir e aprender cada dia mais.
Amigos que estejam comigo não só na hora de brincar e bagunçar, mas também na hora de estudar e nas horas difíceis.
Amigos que vejam os meus erros e me ajudem a superar os problemas que posso criar.
Amigos que me respeitem que me aceitem como sou e que me amem como parte da própria vida.


Ensaio coreografia "Vela"






Ensaio coreografia "Vela"


terça-feira, 17 de julho de 2012

Imagens do processo de Criação em Vila Sapê


Acrescentando a postagem anterior, sobre o processo de criação e construção na comunidade Vila Sapê, compartilho algumas imagens dos dias de montagens coreográficas, explorando a cadeira como material cênico.

Coreografia "Cadeiras"



Coreografia "Cadeiras"























Cena "O Ônibus"