A Bienal de Veneza é um importante acontecimento no universo da Arte Contemporânea. Tendo sua primeira edição em 1895, acompanhou a evolução do pensamento e do fazer artístico e adquiriu uma característica que viria a ser um marco no século XX: as exposições de grandes proporções com pavilhões temáticos.
Em 1950 acontece a primeira representação brasileira no evento, e 1951 marca no Brasil a primeira Bienal de Arte organizada no Museu de Arte de São Paulo. Bienais se sucederam em Veneza e em São Paulo; e a partir de 1995 a Fundação Bienal de São Paulo passa a ser a curadora, organizadora e produtora da edição brasileira.
Nesta edição de 2013 dois nomes chamam a atenção: Jung com o "Livro Vermelho" e Arthur Bispo do Rosário que foi o artista homenageado na Bienal de Arte de São Paulo no ano passado.
Dois universos inconscientes, dois homens e suas imagens criativas.
Abaixo a matéria escrita pelo jornalista Fabio Cypriano e publicada no Jornal "Folha de São Paulo"
Bienal de Veneza se inspira em projeto que criaria palácio com grandes descobertas
FABIO CYPRIANO
Até agosto, os índios kaiowá Genito Gomes e Valdomiro Flores, da aldeia
Guaiviry, no Mato Grosso do Sul, estarão diariamente falando sobre sua
cultura ao lado de um histórico farol na entrada do Arsenale, a antiga
fábrica de armas de Veneza.
"Nós estamos aqui para falar de nosso povo, de nosso passado, do
presente e do futuro", diz Flores. Essas narrativas, em português ou
espanhol, que nem todos vão entender na Itália, fazem parte do novo
trabalho do brasileiro Paulo Nazareth, um dos 150 artistas da exposição
"O Palácio Enciclopédico".
Com curadoria de Massimiliano Gioni, essa é a principal seção da 55ª
Bienal de Arte de Veneza, que será aberta ao público amanhã e vai até 24
de novembro.
Fazem parte ainda da Bienal Pavilhões Nacionais, que nesta edição
alcançaram o recorde de 88 países. Entre eles, o do Vaticano, que
participa do evento de arte contemporânea pela primeira vez.
Gioni sugeriu o título da mostra a partir de um projeto do artista
italiano Marino Auriti (1891-1980), que chegou a viver por pouco tempo
no Brasil e radicou-se nos Estados Unidos no final dos anos 1920. Em
1955, Auriti patenteou uma ideia, a criação do Palácio Enciclopédico, um
museu imaginário que contivesse as grandes descobertas da humanidade.
Auriti, que era um comerciante e nunca foi artista, chegou a construir
uma maquete dessa proposta ambiciosa, cujo custo ele estimou em US$ 2,5
bilhões (R$ 5 bilhões).
A maquete é justamente a primeira peça que se vê no Arsenale, um dos
dois espaços da mostra principal, cercada por fotografias de estilosas
produções de cabelo, registradas pelo nigeriano J.D.Okhai Ojeikere.
'OUTSIDERS'
A exposição faz uma leitura antropológica do estudo da imagem, apagando
limites entre artistas e amadores, entre quem faz parte do sistema da
arte e quem não faz", defendeu Gioni na Itália.
Dessa forma, uma invenção maluca, como o Palácio Enciclopédico, ou as
criativas cabeleiras nigerianas passam a ganhar status de arte.
A Venezapedia de Gioni é bastante ampla: ela vai desde as narrativas
kaiowá, na obra de Nazareth, a desenhos do fundador da antroposofia
Rudolf Steiner (1861-1925), uma coleção de rochas do sociólogo francês
Roger Caillois, ou mesmo o "Livro Vermelho", do psicanalista suíço Carl
Jung (1875-1961).
O livro em capa de couro vermelho --daí o nome-- reúne desenhos pintados
por Jung em formatos de figuras mitológicas e mandalas, ou seja,
diagramas simbólicos circulares utilizados pelo hinduísmo e pelo
budismo.
"Exibir o 'Livro Vermelho', pela primeira vez em uma exposição de arte
contemporânea nos obriga a meditar sobre nossas próprias imagens
internas e sonhos que aparecem através da exposição", disse o curador
italiano.
Ele apresenta o livro na primeira sala do Pavilhão Central, o outro
espaço da mostra principal em uma sala escurecida, e com cópias de
algumas páginas expostas ao seu redor, em um conjunto bastante
dramático.
Na esteira do conceito de "imagens internas", outra figura chave na
exposição é o brasileiro Arthur Bispo do Rosário (1910-1989), que
comparece com um grande conjunto de obras, como também ocorreu na Bienal
de São Paulo, no ano passado.
Mas não é apenas de "outsiders", como são chamados os não-artistas, que o
"Palácio Enciclopédico" é constituído. A exposição apresenta nomes de
peso, como os norte-americanos Walter de Maria e Bruce Naumam, ou a
dupla suíça Peter Fischli e David Weiss, em uma série de pequenas
esculturas em cerâmica com títulos hilários.
Nesse grupo, intitulado "Suddenly This Overview" ("de repente essa
visão"), há de réplicas de fatias de pão a uma cena com dois bonecos que
representam como os pais de Albert Einstein descansam depois de fazer
sexo. A enciclopédia dos suíços, assim como a de Gioni, é realmente
original.
|
Obra do Polonês Pawel Althamer |
Fontes:
http://www.bienal.org.br/fbsp/pt/projetosespeciais/projetos/Paginas/Bienal-de-Veneza.aspx
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/05/1287497-bienal-de-veneza-se-inspira-em-projeto-que-criaria-palacio-com-grandes-descobertas.shtml
Fontes das Imagens:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/videos_e_fotos/2013/06/130531_bienal_veneza_ga.shtml